Era por volta de meio dia quando Maria Aparecida da Silva chegou à sede da Sociedade Mão Amiga. O céu estava bastante nublado, mas contrastava muito bem com o sorriso estampado em seu rosto. A instituição acabara de receber doações da campanha do agasalho, além de doações de muitos alimentos de uma rede de supermercados. Atrás de uma parede com escrito “O que Deus escreve ninguém apaga”, Dona Cida conta sua história e toda trajetória da instituição que fundou há 33 anos.
Maria Aparecida da Silva, popularmente conhecida como Dona Cida, nasceu no dia 11 de Agosto de 1962, em Além Paraíba, cidade distante 122 Km de Juiz de Fora. Apesar de querer diminuir alguns anos de sua idade, Dona Cida fala a verdade, mas já adianto que não aparenta ter a idade que possui: 53 anos. É uma pessoa bastante simples e trabalhadora, cabelo cacheado, altura média e um sorriso extremamente marcante.
De trajetória longa e extremamente comovente, Cida teve uma infância muito pobre e rodeada de dificuldades. Aos cinco anos, teve mais de 40% do corpo queimado com álcool como resultado de uma brincadeira com seus irmãos. Aos oito, enfrentava a mesma situação que mais de 7,2 milhões de brasileiros hoje: a FOME. Porém, diante de tantas dificuldades, nunca deixou de ajudar os mais necessitados e seguiu sorrindo para a vida.
Cida está em Juiz de Fora há 44 anos. Veio para cidade com objetivo de trabalhar, quando tinha apenas nove anos. O primeiro emprego foi em um local bastante conhecido do juizforano, o restaurante Cantina do Amigão, localizado na Rua Santa Rita, no centro do município. Ao longo do tempo, conheceu por um rapaz e “acabou ficando” [na cidade].
Mesmo diante das adversidades, o gosto pela vida vida sempre falou mais alto para Dona Cida. Com 17 anos, teve a primeira filha. Anos depois, eram 14 filhos, sendo 7 adotados. Um número que impressiona qualquer um, mas que não contabiliza a filha que gesta há 33 anos. Dona Cida é uma eterna gestante de uma filha que nasceu no dia 15 de Agosto de 1983: a Sociedade Mão Amiga. “A mão amiga é uma filha que eu criei. Cada aniversário dela eu vou ficando mais velha também”
Entretanto, gerir uma instituição sem fins lucrativos não é uma tarefa fácil. Em tempos de crise, o número de doações caiu muito, não conseguindo atender o mesmo número de pessoas que antigamente. Um drama vivido por todo brasileiro e que também apresenta-se no cotidiano da Mão Amiga. O aluguel da instituição é pago por um juiz federal, o carro foi doação de um importante empresário da cidade, mas nem tudo é desse jeito. São realizadas inúmeras campanhas, conquistando as doações com muito suor e trabalho, com objetivo de ajudar o próximo.
A paixão de Dona Cida pelo próximo é uma lição de vida. Na era de workaholics que levam os anos em função do dinheiro, a presidente-fundadora do Mão Amiga tem dedicação exclusiva à humanidade e ao bem. Questionada sobre o presente que gostaria de receber no próximo aniversário da instituição, não hesita: “Gostaria de pedir que as pessoas fossem mais humanas, mais solidárias. A gente passa por muita necessidade e não conseguimos atender as pessoas que passam aqui pedindo [auxílio].”
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