No
início da Mão Amiga, quando a instituição ainda não tinha uma sede, Cida
trabalhava como faxineira e manicure. Hoje, ela se dedica em tempo integral à
instituição. As histórias de Cida e da Mão Amiga se confundem, pois a
instituição teve início nas adversidades enfrentadas por sua criadora, que ao
viver em uma condição de pobreza e privações resolveu, por conta própria e pela
ajuda de outros voluntários, transformar a realidade das pessoas ao seu redor.
A
Mão Amiga nasceu do trabalho de Cida e de outras moradoras da Vila Olavo Costa,
que se mobilizaram para ajudar as famílias economicamente carentes da região.
Elas organizavam campanhas para arrecadação de material escolar, festas juninas
e campanhas de reciclagem de latas de alumínio com o objetivo de angariar
recursos para repassar à comunidade. As moradoras também formaram um grupo
chamado por elas de “mães sociais”, onde cuidavam dos filhos de outras vizinhas
para que estas pudessem trabalhar fora.
Um
evento que nessa época atraiu a atenção da mídia local foram os tradicionais almoços oferecidos aos
necessitados do bairro. A confraternização era organizada por Cida e demais
voluntárias no último domingo de cada mês. Entretanto, o reconhecimento público
pela sociedade juiz-forana seria alcançado graças à distribuição de sobras de frango à comunidade da Vila Olavo Costa.
Tudo
começou quando Cida fazia faxina na casa de uma senhora em Matias Barbosa,
cidade próxima a Juiz de Fora. O filho de sua patroa era dono de um abatedouro,
e, a pedido de Cida, começou a separar os restos de frango que não eram
vendidos, e, muitas vezes, até mesmo jogados fora, para doar à faxineira. Cida,
por sua vez, os distribuía entre as pessoas mais necessitadas do bairro.
No
início 30 pessoas recebiam os pedaços de frango: pescoço, dorso, banha e pé de
frango. Com o tempo, o dono do abatedouro notou a seriedade do trabalho e
passou a separar uma quantidade maior para que mais famílias pudessem ser
atendidas. A procura foi tanta que levou Cida a criar uma ficha de cadastro
para o controle das doações. Quando a fundadora da Mão Amiga recebia uma
quantidade extra de frango ligava do orelhão do bairro para outras comunidades
pobres irem buscar as doações.
A
atitude despertou a atenção do dono de outro abatedouro em Juiz de Fora, que,
ao conhecer o trabalho realizado por Cida, resolveu também doar vários quilos
de pedaços de frango. Cida chegou a receber e repassar uma tonelada da carne
branca à comunidade de baixa renda. O projeto alcançou o número de 700 famílias
cadastradas e foi aquele em que a Mão Amiga teve o maior número de
beneficiários.
Além
do trabalho social, Cida se aproximou dos moradores da região e passou a ser
conhecida por outras entidades beneficentes da cidade por ter sido presidente
da Associação de Moradores do bairro Vila Olavo Costa durante oito anos.
Após
permanecer 15 anos no local, a Mão Amiga passou a atuar no bairro Santa Rita.
Até então a instituição não tinha uma sede, a distribuição das sobras de
frango, por exemplo, era realizada na varanda da casa de sua ex-sogra. Já os
encontros aconteciam informalmente na casa de Cida ou em outras localidades.
Quando
a Mão Amiga completou 22 anos, o jornal Tribuna de Minas realizou uma matéria
com a fundadora da instituição. Na reportagem Cida relatou seu sonho em ter uma
sede para atender os assistidos e poder acolher os voluntários que trabalhavam
em nome da entidade. Ao ler a notícia, um juiz da cidade, que prefere manter
seu nome e trabalho no anonimato, procurou Cida e se comprometeu a pagar o
aluguel do imóvel que ela escolhesse para se tornar a sede da organização.
Alguns recortes de matérias publicadas pelo jornal Tribuna da Minas relacionados à distribuição de carnes que representaria o início das atividades da Mão Amiga |
Cida
optou por uma casa no bairro Ipiranga que funciona até hoje como a sede da Mão Amiga, e o
aluguel continua sendo pago pelo juiz. O local permanece aberto para atender a
comunidade e lá são disponibilizadas atualmente consultas jurídicas e outros
atendimentos com profissionais voluntários, como fonoaudióloga e professoras.
(Fragmento do artigo “A comunicação comunitária e as instituições sem fins
lucrativos: O caso da Sociedade Beneficente Mão Amiga” por Jordana Carvalho
Moreira).
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